Gestação e  Endocrinologia 

A gestação é um período de grande mudança hormonal, quando muitas doenças endocrinológicas podem surgir.

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A gestação é um período de grande mudança hormonal, quando muitas doenças endocrinológicas podem surgir.

Já as doenças pré-existentes precisam de uma abordagem mais atenta nesse período da vida, porque quando são negligenciadas podem trazer consequências negativas para o bebê e para a mãe. As doenças endocrinológicas que requerem atenção especial durante a gestação incluem diabetes gestacional ou diabetes prévio à gestação, doenças da tireoide, da hipófise, das supra-renais ou das paratireoides.

Nesse sentido, o acompanhamento de um Endocrinologista com a gestante torna a gravidez um período muito mais tranquilo e saudável para a mulher e seu bebê.

Diabetes Gestacional: Diagnóstico, tratamento e complicações

O diabetes gestacional é geralmente diagnosticado no segundo trimestre da gestação, quando o médico solicita exames específicos para verificar a condição de saúde da grávida e suas taxas de glicemia.

Na primeira metade da gestação – até 20 semanas – ocorre maior consumo de glicose pela mãe e pelo feto, bem como maior sensibilidade à insulina. Por isso, mulheres com alterações de glicemias diagnosticadas antes de 20 semanas de idade gestacional são consideradas como diabetes pré-gestacional, uma vez que nesse período costuma até melhorar a sensibilidade à insulina e haver redução da glicemia, e não o contrário.

A partir de 20 semanas de idade gestacional, ocorre elevação de hormônios contrarregulatórios, isto é, hormônios que levam a um aumento da resistência à insulina e, caso não haja reserva pancreática suficiente para compensar esse quadro, ocorre diabetes melito gestacional (DMG).

Dentre os fatores de risco para DMG, temos:

  • Idade acima de 35 anos
  • Sobrepeso/obesidade maternas antes da gestação
  • Ganho excessivo de peso na gestação
  • História familiar de diabetes em parente de primeiro grau (pais e irmãos)
  • História pessoal de diabetes gestacional prévia ou óbito fetal
  • Intolerância à glicose prévia
  • Macrossomia fetal (bebê que nasce com peso elevado para idade gestacional) ou feto grande para idade gestacional
  • Hipertensão arterial sistêmica (HAS), dislipidemia e doença arterial coronariana (DAC) maternas
  • Sedentarismo

Para diagnóstico de Diabetes Pré-Gestacional, é feito rastreio na primeira consulta pré-natal nas pacientes com sobrepeso/obesidade que apresentem ao menos um fator de risco associado:

  • Sedentarismo, Parente de primeiro grau com diabetes melito
  • Etnia de risco: negros, latinos, indígenas e asiáticos
  • Antecedente pessoal de recém-nascido pesando mais de 4 kg
  • Hipertensão arterial sistêmica (HAS)
  • Dislipidemia relacionada com a síndrome metabólica
  • Síndrome dos ovários policísticos (SOP)
  • Antecedente pessoal de pré-diabetes
  • Sinais de resistência à insulina, como acantose nigricans (manchas escuras em regiões de pescoço, axilas e outras dobras, e obesidade concentrada no abdome
  • Antecedente pessoal de doença cardiovascular

Diagnóstico de Diabetes Melito Gestacional

Todas as gestantes sem diagnóstico prévio de diabetes devem ser submetidas ao teste de tolerância de glicose oral (TTGO) entre 24 e 28 semanas de idade gestacional. Neste exame, é dosada a glicemia em jejum e oferecido à gestante 75g de glicose (em forma de um “xarope”) com dosagem de glicemia após 1 e 2 horas.

No caso de diagnóstico de diabetes durante a gestação, a mulher precisa de acompanhamento contínuo de um Endocrinologista, com consultas frequentes, a fim de controlar a glicemia e evitar complicações maternas e fetais.

Para mulheres com diagnóstico prévio de Diabetes, é importante lembrar que a hiperglicemia no momento da concepção do bebê pode levar a malformações fetais e aumento do risco de abortamento, por isso o ideal é engravidar com uma hemoglobina glicada (HbA1c) menor do que 6% – para quem nunca ouviu falar, esse exame é útil em verificar a média das glicemias nos últimos 3 meses.

Além disso, quando não controlados adequadamente, o Diabetes pré-gestacional ou gestacional aumentam o risco de hipertensão e pré-eclâmpsia/eclâmpsia, macrossomia fetal, recém-nascido grande para idade gestacional, trauma de parto, prematuridade, aumento do número de cesáreas, aumento do risco da criança apresentar futuramente obesidade, síndrome metabólica e hipertensão. Na mãe, o Diabetes não controlado durante a gestação aumenta o risco de infecções maternas e urinárias de repetição, progressão ou início de retinopatia, síndrome do túnel do carpo e gastroparesia.

Tratamento do Diabetes Melito Gestacional

O principal pilar do tratamento do diabetes melito gestacional é a alimentação e a realização de atividades físicas regulares. Algumas vezes o seu Endocrinologista necessitará adicionar tratamento medicamentoso, quando só a dieta não for capaz de controlar adequadamente as glicemias.

  • Dieta: A maioria das pacientes (75 a 80%) com Diabetes Melito Gestacional consegue obter controle da glicemia apenas com dieta e atividade física, sem necessidade de medicação. A dieta deve ser calculada de acordo com o IMC pré-gestacional, evitando dietas com menos de 1.800 kcal/dia, pelo risco de cetose. Deve-se tentar reduzir a porcentagem de carboidratos na dieta e também monitorar o ganho de peso semanal, que deve ser quase nulo no primeiro trimestre, cerca de 300g por semana no segundo trimestre, e cerca de 400g por semana a partir do terceiro trimestre. É fundamental o acompanhamento com um Nutricionista.
  • Exercício físico: Idealmente, a paciente deve praticar 30 minutos de atividade aeróbica diariamente (como caminhada, por exemplo), realizando glicemia capilar pré e pós exercício. Não se deve exercitar com glicemia capilar ≤ 70 mg/dℓ ou ≥ 250 mg/dℓ. Nesses casos, o ideal é corrigir a alteração glicêmica antes de iniciar a atividade física.
  • Tratamento medicamentoso: Deve ser iniciado após 2 semanas de tentativa de controle glicêmico com dieta e exercício, caso não sejam atingidos os alvos glicêmicos preconizados. O tratamento medicamentoso mais seguro e ideal é a insulinização, porém estudos têm mostrado que alguns medicamentos orais parecem ser seguros na gestação, e, apesar de ainda não serem liberados formalmente, seu uso “off-label” é rotineiro e tem mostrado bons resultados.
  • Cuidados no momento do parto: Gestantes com bom controle glicêmico e sem complicações obstétricas podem esperar o início espontâneo do trabalho de parto, sendo o tipo de parto indicado pelo obstetra – cesariana ou normal. O risco de hipoglicemia para o feto só ocorre após o parto, caso a mãe tenha sido exposta a hiperglicemia próximo ao momento do parto, pois nessa situação o feto passa a produzir muita insulina para manter sua glicemia normal e, quando se corta o cordão umbilical, há o risco de ter hipoglicemia.

Para ter uma gestação tranquila e reduzir os riscos associados ao Diabetes Melito Gestacional, faça consultas regulares de pré-natal com seu Obstetra e o acompanhamento regular com seu Endocrinologista.

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